A Sombra

A chuva caía lentamente lá fora, a tempestade já havia passado, mas fizera questão de acabar com a energia elétrica. Helena estava sozinha em casa, sentada em sua cama sem conseguir dormir, já passava das duas horas da madrugada. Que besteira, pensou, não sou mais uma criancinha para ter medo de raios e do escuro. Deitou-se e fechou os olhos para tentar dormir, mas um barulho a fez levantar rapidamente. Ficou sentada em silêncio apenas escutando. Nada. Respirou fundo e tentou dormir, mas seu coração batia acelerado. Foi o vento. Outra vez o barulho, só que agora mais alto e mais perto.

Saiu da cama e acendeu uma vela, tocou lentamente a maçaneta da porta e a abriu, um extenso corredor estava a sua frente, que levava até a cozinha. Não tem nada aqui, pensou, estou ficando maluca. Virou-se para entrar novamente no quarto, até que um vulto a assustou. Olhou em volta e não havia nada. Um barulho estranho veio da cozinha, criou coragem e foi andando lentamente até lá. Parou em frente a porta, hesitando em abri-lá. Ficou em silêncio para tentar escutar, mas seu coração parecia fazer um barulho ensurdecedor. Até que ouviu o barulho novamente, mas pareciam, passos. 

Tem alguém na casa, percebeu desesperada. Seu coração foi parar na boca quando viu que alguém estava tentando abrir a porta da cozinha, não havia tempo para voltar ao seu quarto, olhou em volta assustada, até que avistou o velho armário que ficava no corredor, apagou a vela e se escondeu rapidamente. Ouviu o leve ranger da porta, o barulho dos passos foi aumentando, aumentando, até que simplesmente parou. Os minutos de silêncio que se seguiram foram terríveis. Segurava as portas do armário com as mãos trêmulas, até que alguém começou a forçá-las, lágrimas escorreram por seu rosto enquanto tentava segurar as portas com toda a sua força. Um ruído terrível vinha do lado de fora, não parecia... humano. Um raio explodiu lá fora e os ruídos cessaram. Será que foi embora? De repente as portas foram abertas brutalmente e uma luz a cegou, Helena só teve tempo para gritar. 

- Você está louca? - Uma voz familiar perguntou. Helena nunca esteve tão feliz de ver sua melhor amiga, Ana.

- Tinha alguma coisa na casa, graças a Deus que você está aqui. - Helena fitou Ana por um momento. - Como entrou aqui?

- Pela janela da cozinha, estava aberta, ouvi barulhos estranhos. Mas quando entrei não havia nada. 

Helena saiu correndo, esbarrando na amiga e foi até a janela da cozinha, a fechou rapidamente, notando várias manchas escuras no chão, ao olhar para fora só teve tempo de ver uma sombra negra cruzando a rua e desaparecendo misteriosamente.

~

O dia amanheceu rapidamente e Helena já estava pronta para mais um dia de aula, quando abriu a porta de casa, notou que havia um jornal no tapete. O pegou e quase entrou em choque quando leu a notícia principal. Dezenas de crianças haviam desaparecido misteriosamente naquele mês, a polícia não havia encontrada pista nenhuma do responsável, a única coisa em comum, eram manchas escuras encontradas no chão.